Quando menina, andar pelas ruas arborizadas da cidade era um prazer sem igual. Todo dia, eu fazia o trajeto de casa até a escola caminhando pelas sombras das árvores frondosas da rua Rui Barbosa. Aos sábados esse prazer se estendia até as piscinas da Associação Atlética Saltense e, aos domingos de manhã, até a praça da Matriz Nossa Senhora do Monte Serrat, quando ia para a missa e encontrava os amigos debaixo das sombras das árvores que circundavam a igreja. Nessa época, eu me locomovia a pé de um canto a outro da cidade e me encantava com a beleza singela que encontrava pelo caminho.
Eu também me encantava com a exuberância da cachoeira do Tietê após as chuvas de verão, para onde corríamos na primeira estiagem a fim de admirar a beleza das águas que a abertura das comportas propiciava para os saltenses. Se o índice pluviométrico era excessivo, o nível do rio transbordava seu leito e inundava áreas ribeirinhas. Lembro quando meu pai chegava em casa com a notícia de que o rio tinha coberto a Ilha Grande e corríamos até a esquina da rua Joaquim Nabuco com a 24 de Outubro para espreitar a força das águas. Em tupi-guarani, Tietê significa “rio caudaloso” e teve importância direta no desenvolvimento da cidade, com a instalação das primeiras indústrias têxteis do estado de São Paulo, que afluíram para Salto em busca dos benefícios da Usina de Lavras – segunda hidrelétrica construída no leito do Rio Tietê.
Outra atração que me encantava era a Ponte Pênsil. Foi construída em 1913, com 75 metros de extensão, para facilitar o acesso dos pescadores ao Porto das Canoas, ao lado da antiga fábrica da Brasital. Atravessá-la era uma aventura sem igual porque o seu balanço me remetia a situações improváveis, que a minha imaginação fértil criava facilmente. Lembro que, certa vez, empaquei no meio da ponte. Tinha medo de seguir em frente e receava voltar atrás. Tudo porque tinha uma travessa de madeira quebrada no piso da ponte e eu me imaginava escorregando para o leito do rio por aquele minúsculo espaço. Alguém, então, decidiu me colocar em ação balançando a ponte energicamente de um lado pro outro. E eu voltei correndo para terra segura, guardando na memória a lembrança daquele instante. Em que outro lugar poderia eu ter me encantado tanto? Salto, porque ainda me encanta!
Lindo texto Anna! Nossa terra, 325 anos!
Mas viu, ainda criança, eu já achava uma tremenda sacanagem os adultos balançarem a ponte quando nós estávamos passando por ela só pra rir vendo a gente gritar ou voltar correndo de medo…