Gêneros literários, modismos e tendências

Jennifer Lawrence na distopia Jogos Vorazes que ganhou as telas do cinema

O que é uma distopia? E uma romantasia? O que é um livro classificado como young adult? E um dorama ou uma healing fiction, o que são?

São tantas as novas denominações e as tendências apontadas pelo mercado editorial que pode até parecer que os gêneros literários não são mais os mesmos que aprendemos nas aulas de redação… Aqueles cunhados, ainda na Grécia Antiga, por Aristóteles. Segundo ele, os gêneros literários se dividem em: épicos (narrativos), líricos (poesia) e dramáticos.

Outra fonte de confusão, até mesmo em antologias que abrangem gêneros diversos, refere-se à distinção entre gêneros textuais e gêneros literários. Os gêneros textuais têm um propósito prático, ou seja, existem para comunicar. Podem atender a requisitos estéticos, mas são fundamentalmente funcionais, incluindo artigo de opinião, biografia, bula, carta, crônica, diário, editorial, manual de instruções, notícia, panfleto, propaganda, receita, relatório e reportagem, entre outros.

Já os gêneros literários servem para categorizar exclusivamente textos artísticos. O gênero narrativo refere-se a textos que contam histórias; o lírico está relacionado a escritos subjetivos e plurissignificativos, enquanto o dramático abrange peças destinadas à encenação.

Cada gênero tem, ainda, subgêneros. No gênero narrativo, encontramos epopeia, romance, conto, novela e fábula. O gênero lírico admite subgêneros como soneto, ode, elegia e hino, entre outros. No gênero dramático, encontram-se textos denominados tragédia, comédia, auto e farsa.

No entanto, uma série de modismos e novas denominações povoam o mundo dos livros. Antes de criticá-los, é importante lembrar dos escritos do filósofo e crítico literário Georg Lukács. Em sua obra “Teoria do Romance”, o escritor húngaro afirma que os gêneros literários são um organismo vivo: eles nascem, reproduzem, evoluem e morrem, como todo organismo vivo. Então, segundo ele, todo gênero vai morrer um dia, ou se transformar em outra coisa, já que o elo principal entre a Literatura e o mundo é o ser humano, sendo a Literatura uma de suas formas de se expressar diante dos acontecimentos de seu tempo.

A Literatura e as formas de catalogá-la dependem fundamentalmente da História, dialogam com a História das nações. É assim que o romance moderno é uma evolução natural da antiga epopeia, já que mundo de hoje, por suas estruturas políticas, econômicas e sociais não comporta mais a existência de uma epopeia. Esse tipo de manifestação literária, sobre feitos memoráveis e heroicos, não faz mais sentido no tipo de sociedade atual.

O homem de hoje é mais mesquinho e anti-heroico, além de viver num mundo de inquietações. São essas características do nosso tempo que dão origem a produções literárias diferentes que, pipocando aqui e ali, vão sendo aglutinadas debaixo de novas classificações e indicam o que os editores chamam de tendências.

Segundo um levantamento que fiz junto a publicações especializadas, é tendência na Literatura, em 2024, o gênero narrativo, mas com temáticas focadas em:

Distopia

A distopia é um gênero literário que se opõe ao ideal utópico de uma vida sonhada por poetas e escritores do passado. Governos repressivos e totalitários, moldando sociedades com valores morais distorcidos e assustadores, são elementos comuns nessas obras, apresentando um futuro pessimista para a humanidade. São autores de alguns best-sellers distópicos: James Patterson, Veronica Roth e Scott Westerfeld. Isso sem contar algumas obras clássicas do gênero que retornaram às listas de mais vendidos, como “1984”, de George Orwell, e “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley.

Romantasia

Trata-se de uma fantasia que prioriza o romance e a interação entre personagens, em contraste com a jornada do herói ou a busca por poder. A narrativa ainda se desenrola em um universo fantástico. Embora histórias desse tipo não sejam novas, o termo “romantasia” começou a ser amplamente utilizado recentemente. Autores de destaque incluem Sarah J. Maas, Alex Aster e Leigh Bardugo.

Young Adult

A literatura Young Adult (YA) destaca-se por apresentar protagonistas na faixa etária dos 14 aos 21 anos, explorando a transição da adolescência para a vida adulta. Apesar de alguns equívocos associarem YA ao público leitor, a ênfase recai sobre os personagens jovens. Diferente da literatura infantojuvenil, aborda temáticas mais adequadas à vida adolescente, abrangendo estilos como romance, suspense e terror. Entre os maiores sucessos do gênero estão a saga Harry Potter (J.K. Rowling) e as séries Jogos Vorazes (Suzanne Collins), Percy Jackson (Rick Riordan) e Crepúsculo (Stephenie Meyer).

Healing Fiction (Ficção de Cura)

Os livros de healing fiction ganham destaque ao oferecer uma experiência terapêutica aos leitores, abordando questões existenciais de maneira reconfortante. São narrativas que envolvem o leitor com histórias capazes de curar feridas e provocar mudanças positivas. Em resumo, buscam promover bem-estar emocional e conexão por meio de narrativas inspiradoras. Destaques incluem: “A Biblioteca dos Sonhos Secretos” (Michiko Aoyama), “A Biblioteca da Meia-Noite” (Matt Haig) e “Bem-Vindos à Livraria Hyunam-Dong” (Hwang Bo-reum).

Dorama

Derivado da palavra “drama” em japonês, doramas são textos que ganharam visibilidade ao serem encenados em séries televisivas. Geralmente, são histórias com começo, meio e fim, interpretadas por elencos menores, em temporadas curtas e sem muita complexidade. Abrangem temas que vão desde acontecimentos cotidianos até tramas policiais. Alguns dos maiores sucessos do gênero são de autores sul-coreanos, como “Pachinko” (Min Jin Lee), “A Vegetariana” (Han Kang), “Flor Negra” (Kim Young Ha).

5 comentários em “<strong><strong>Gêneros literários, modismos e tendências</strong></strong>”

  1. Gostei do “O homem de hoje é mais mesquinho e anti-heroico, além de viver num mundo de inquietações”, ou seja, modernidade líquida de Bauman. Parabéns pelo texto, Anna!

    1. Fico feliz que tenha gostado do artigo, Alexandre. Procurar entender essas transformações nos dá melhores condições para atuar na produção literária, né?

  2. Alberto Manavello

    Grande e profundo trabalho. Nunca teria imaginado tal magnitude de variantes.
    Estou feliz por este teu trabalho que me informa o quanto sou ignorante. Mesmo assim estou feliz de poder aproveitar da pesquisa de outros estudiosos.
    No caso voce, grande amiga.
    Um abraco do Alberto.
    .

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *