Música & Literatura

Neil Diamond cantou “Sweet Caroline”, um de seus maiores sucessos, na abertura da temporada do musical em sua homenagem

Faz algum tempo que reflito sobre a influência da música na produção literária, e não estou aqui questionando se música é literatura, afinal, isso é assunto vencido haja vista a merecida conquista do Nobel de Literatura pelo compositor Bob Dylan, em 2016. Mas falo sobretudo da relação do escritor com a música e da música como fonte de inspiração para o escritor.

Eu mesma já vivi a experiência de ouvir uma música que me despertou a verve escritora, e conheço autores contemporâneos que escrevem seus livros ouvindo música, ou ouvem música em busca de inspiração ou para estimular seu processo criativo. Esses escritores, inclusive, compartilham com seus leitores a playlist da obra no final do livro ou em suas redes sociais. Tendência passageira? Vá saber! O que sei é que existe, sim, uma estreita ligação da música com a produção literária e vice-versa.

Li, recentemente, que o compositor britânico Andrew Lloyd Webber só conseguiu inspiração para compor o famoso musical O Fantasma da Ópera depois de ler o livro. Antes disso havia assistido aos filmes que existiam na época, a primeira versão de 1925 e a produção de 1943. Mas, revela ele, foi ao ler a obra que encontrou o caminho para produzir o musical. Em contrapartida, o laureado escritor Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura em 2017, compôs mais de 100 letras de música antes de começar a escrever short stories (contos) e encontrar seu norte.

Ora essa, então não é a letra de uma música uma short story? Eu penso que sim! E essa certeza tem se solidificado cada vez que assisto a um novo musical, como aconteceu recentemente quando vi A Beautiful Noise, sobre a história do legendário compositor Neil Diamond, em cartaz atualmente na Broadway. O tempo todo, durante o musical, eu pensava que escrever lyrics (compor uma canção) é muito similar a escrever um poema, e se contiver rima, contrariando as regras da modalidade poetrix, muito melhor para a harmonia da letra com a melodia. Mas pode ser, também, uma prosa poética ao contar a história por trás dos sentimentos, como Neil Diamond faz em “I am… I said”, onde conta como se sentiu preso entre dois lugares após mudar-se, por motivos profissionais, de Nova Iorque para Los Angeles.

Música e literatura são, enfim, artes que interagem, seja pelas boas histórias ou pela poética das palavras.

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