“Talvez Esther” é o romance de estreia de Katja Petrowskaja, uma ucraniana de origem judia, que reside em Berlim desde 1999. A obra resgata a fragmentada história familiar da escritora. Até aí, nenhuma novidade! Muitos escritores debutam na literatura com livros autobiográficos ou recheados por passagens biográficas. O que de fato encanta nesse livro é a originalidade da escrita. Nas primeiras páginas, as frases lançadas ao acaso rementem a pensamentos soltos, que encaixam com precisão cirúrgica conforme a leitura avança. Ao perceber esse esmero na composição narrativa, a autora me ganhou.
Nascida no início da década de 1970, a escritora estudou Ciências Literárias em Tartu, na Estônia, e graduou-se em Moscou, em 1998. Após ser contemplada com o Prêmio Ingeborg Bachmann de literatura alemã, em 2013, iniciou pesquisa de campo e documental para resgatar a história dos seus antepassados, que resultou no livro “Talvez Esther”, lançado um ano depois. No Brasil, o romance foi publicado em 2019, pela Companhia das Letras, e foi traduzido para outros 19 idiomas com o aporte do Programa de Fomento à Tradução do Goethe-Institut.
A leitura das 256 páginas do livro revela fatos curiosos, como o julgamento de um tio-avô da escritora, acusado do atentado que precedeu a 2ª Guerra Mundial, ou quando sua avó pediu orientações em iídiche a soldados alemães para chegar a Babi Yar, dois dias antes de mais de 33 mil judeus serem mortos nesse local. Apesar dessas e de outras situações se referirem a fatos tristes e graves, a leitura do livro é majoritariamente leve pela forma que Katja escolheu para abordar os temas. Ponto pra ela!
É algo que deveria ser cultivado por todas as famílias esse processo de descoberta da própria história. Me emocionei muito com Torto Arado porque trouxe histórias semelhantes às contadas por meu pai. Um dia irei para o sertão da Bahia fazer essa trajetória. Quanto a dica de leitura, está na lista (enorme) para leitura!