Um olhar sobre o “4 de julho”

Senti vontade de ler sobre a história estadunidense, inspirada pela celebração do “4th of July”, e escolhi o livro Uma breve história dos Estados Unidos, escrito por James West Davidson, assim que li a introdução baixada gratuitamente no meu kindle. Mérito do escritor, obviamente! O autor conta, logo nas primeiras páginas do livro, porque ler história influenciou a vida de dois homens que “usaram seu conhecimento de história para fazer história” – e faz referência a uma das obras de Henry David Thoureau, filósofo naturalista a quem devoto grande respeito. Portanto, você já entendeu os motivos da minha escolha por este livro, não é mesmo? Mas Davidson foi muito além, ao explicar como uma nação formada por uma variedade de povos, uniu-se sob o lema “De muitos, um”.

Nos primeiros capítulos do livro somos apresentados ao “Almirante dos Mares”, como se autoproclamava Colombo, e à sua expedição de 1492 para a América do Norte. Estima-se que, nessa época, cerca de 8 milhões de nativos viviam em continente americano, estabelecidos em pequenas sociedades de diferentes culturas, crenças e costumes. Nesse ponto do livro, o autor explica como o ambiente e o clima influíram diretamente na distribuição das sociedades indígenas pelo continente, bem como nas excursões de exploração de recursos, sobretudo ouro e prata, lideradas pelos europeus. Afinal, o continente norte-americano tem o formato de um funil invertido, ladeado nas bordas por formações rochosas: as Cordilheiras Apalaches ao leste, e Sierra Nevada e das Cascatas ao oeste.

Outro aspecto igualmente importante para a formação da nova sociedade americana tem lastro religioso: Martinho Lutero e João Calvino. A síntese do pensamento reformador de ambos ensejará um grupo a pôr em prática suas ideias de “julgar por si mesmo e de construir uma comunidade santa”. Assim, um século depois dos exploradores espanhóis, franceses e ingleses, motivado pelos princípios religiosos de Lutero e Calvino, um pequeno grupo de peregrinos aportou em Cape Cod (Massachusetts), liderado por William Bradford. Esse fato é de suma importância para os fundamentos da nova sociedade, uma vez que os passageiros dessa embarcação fizeram um acordo, conhecido como o Pacto do Mayflower, e criaram um governo próprio, com leis justas e iguais (pelo menos ideologicamente). Portanto, homens livres passaram a eleger representantes para tratar de assuntos de bem comum.

Faço aqui um parêntesis para destacar o nível educacional na formação das primeiras colônias.  De cada dez homens, seis sabiam ler. Entre as mulheres, três em dez. Além disso, praticamente toda cidade da Nova Inglaterra tinha uma escola pública de ensino fundamental para os meninos, enquanto muitas garotas aprendiam a ler nas então chamadas “escolas para damas”. Remontam também dessa época as primeiras bibliotecas móveis, que faziam o livro chegar a lugares remotos e fomentavam o hábito da leitura. Muitos anos depois, em 1776, veremos a importância do hábito da leitura para a Declaração da Independência, com a distribuição de cem mil panfletos intitulado “Senso Comum”.

Mas que fatos precederam a Declaração da Independência? Afinal, as Treze Colônias instaladas ao longo da costa leste estavam se desenvolvendo, apesar dos riscos enfrentados nos movimentos migratórios, inclusive de ordem sanitária, que ceifavam a vida de muitos.

Podemos citar a Guerra dos Sete Anos (1756 a 1763), uma disputa territorial entre ingleses e franceses, que elevou ainda mais a crise financeira da Grã-Bretanha. Essas disputas ocorreram na Europa, na Índia, nas Filipinas e na América, onde os britânicos obtiveram vitórias sob o comando do general William Pitt, não sem terem aberto, porém, grande déficit nas contas públicas de seu país. O jovem rei George III, que havia acabado de assumir o trono, tinha sido contrário às investidas do general Pitt. Isso tudo levou o Primeiro Ministro da Grã-Bretanha, George Grenville, a achar justo que os norte-americanos ajudassem a pagar as despesas. Mesmo com divergências entre os membros do Parlamento, a iniciativa de arrecadar fundos saiu vitoriosa. Assim, sem a aprovação dos colonos, criou-se a Lei do Selo, que veio a somar-se à Lei do Açúcar, e também se estabeleceu o monopólio da venda do chá à Companhia das Índias Orientais.

Os norte-americanos não rejeitaram totalmente a autoridade Britânica, que tinha direito de regular o comércio entre partes diferentes do império. Mas rejeitaram o poder de cobrar impostos. O Parlamento até recuou sobre a Lei do Selo, porém nunca duvidou sobre o poder de tributar e tratou de regular o comércio, com impostos sobre produtos importados – as tarifas de Townshend. Isso gerou mais protestos, e boicotes organizados pelos Filhos e Filhas da Liberdade, agora com o apoio das mulheres que produziam tecido em seus teares caseiros.

Depois de três anos de discussão, o Parlamento recuou sobre as tarifas de Townshend, mas manteve o imposto sobre o chá para marcar sua autoridade. Porém, nesse momento, liderados por Samuel Adams, os Filhos da Liberdade estavam prontos para agir! E quando o governador real insistiu em descarregar os navios vindos das Índias Orientais, uma multidão vestida de indígenas promoveu a famosa Tea Party, abrindo os baús e arremessando as folhas de chá nas águas geladas do porto de Boston. Como punição, o Parlamento fechou o porto e proibiu audiências públicas de protesto.

Essas leis coercitivas convenceram os colonos que eles precisavam se reunir e assim aconteceu, em 1774, na Filadélfia, o primeiro Congresso Continental. No ano seguinte, no segundo congresso, foi formado um comitê com John Adams, Benjamin Franklin, Roger Sherman, Robert R. Livington e Thomas Jefferson, este último responsável por redigir o rascunho do texto da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, ratificado em 4 de julho de 1776.

Lembra do panfleto intitulado Senso Comum? Foi escrito por Thomas Paine, a pedido do amigo Benjamin Rush, que era médico e participou como delegado do segundo Congresso Continental. Paine era um livre pensador e não mediu palavras ao defender o seu ideal, declarando que “diante de Deus, um homem honesto tinha mais valor do que todos os facínoras coroados que já existiram”. Ao longo de seis meses, antes da Declaração da Independência, foram vendidos 100 mil exemplares do panfleto, contribuindo para convencer os leitores norte-americanos de “que deveriam depor seu monarca e cortar todos os vínculos com a Grã- Bretanha”.

A Inglaterra só reconheceu a independência dos Estados Unidos em 1783.

2 comentários em “<strong><strong>Um olhar sobre o “4 de julho”</strong></strong>”

    1. Sem dúvida, Alexandre. Nós, brasileiros, ainda temos um largo caminho pela frente, mas com atividades do tipo que você desenvolve com a garotada, tenho esperanças de poder chegar lá.

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